Dois anos depois de violentos programas de austeridade terem lançado a
maioria dos países europeus na recessão, originando um mar de desempregados e o
aumento em cascata do endividamento público, o Fundo Monetário Internacional
veio reconhecer que “subestimou” o efeito recessivo gerado pela austeridade.
O “erro”, reconhece agora o FMI no relatório semestral sobre o estado da
economia mundial, estava nos modelos económicos utilizados para calcular os
efeitos da política de austeridade na economia. Num estudo intitulado
"Estaremos a subestimar os multiplicadores orçamentais de curto
prazo?", os economistas do Fundo tentam perceber porque razão as previsões
para a evolução da economia têm falhado sistematicamente.
Enquanto nos cálculos efetuados para definir o programa seguido nos
memorandos para Portugal, Grécia ou Irlanda, se previa uma diminuição de 0,5
euros na riqueza do país por cada euro a mais nos impostos ou de corte na
despesa pública, o FMI reconhece agora que esse impacto é muito superior.
Assim, desde o início da crise financeira de 2008, o produto dos países
europeus está a diminuir entre 0,9 e 1,7 euros por cada euro retirado à despesa
do Estado.
O “mea culpa” do FMI surge dois anos depois de esta intuição ter
reconhecido o papel dos seus modelos no deflagrar da crise financeira que levou
à atual recessão.
"Esta descoberta é consistente com investigação que sugere que, no
actual ambiente de fraca utilização da capacidade produtiva, de política
monetária limitada pelas taxas de juro zero e de ajustamento da política
orçamental simultâneo em vários países, os multiplicadores podem estar bem
acima de um", defende-se no relatório do FMI.
O que o relatório do FMI escamoteia é que os cálculos utilizados pela
instituição sempre foram contestados por um sem número de economistas, como os
prémios Nobel Paul Krugman ou Stiglizt, por não levarem em consideração o
impacto recessivo da austeridade.
O certo é que um erro tão grosseiro no cálculo do efeito das medidas de
austeridade, e com uma dimensão que chega mesmo a ser surpreendente, teve
impacto nas economias europeias, principalmente das que estão intervencionadas
pela Comissão Europeia e FMI (como é o caso de Portugal). Retirado de
esquerda.net
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